
Ainda não vi escritos falarem dignamente de beleza, brotados de corações famintos por riqueza. Estes exaltam mediocridades da existência, a exemplo de valer a pena ignorar leituras e conhecimento e mergulhar em patrimônios materiais.
Ainda não vi escritor merecedor deste título debandar em banalidades, semelhante a de escrever o que agrade leitores medíocres e não o que ascenda às melodias da arte. Buscar amplitudes a sutis sentimentos não reverbera sem aprimorar o cerne artístico em distinto grau de sensibilidade.
Ainda não vi ruas cheias de livreiros em oferenda de seus produtos enquanto os sacerdotes da eloqüência se candidatam a parlamentares e administradores dos serviços públicos. Destes, só se vê gritos a defender educação e da cultura em repetidas promessas, e ridículas.
Ainda não vi aplausos sinceros à arte de escrever por quem não se debruça a ler e vive sem decodificar o significado de compêndio. Contudo, esta maioria comemora-se na condição de saber juntar letras ou ler manuais que ensinam somar moedas ou enganar pessoas.
Ainda não vi palmeiras esconderem seus cachos carregados de coquinhos e negar seus frutos, prontos, sem espalhá-los pelos caminhos de poetas. Coqueiros ensinam elaborar sínteses e usar metáforas, na intenção de não agredir quem lê. O intento é não machucar com as realidades caídas do céu dos jerivás.
Vi pretenso escriturário a olhar pela janela e dissertar sobre ocorrências de ignorâncias rabiscadas em tristes páginas da vida. Vi o sol a secar folhas de cadernos mofados de aguardar uso, o vento a sacudir mentes obsoletas e dedos a dedilharem embarcações preguiçosas, que se limitam a morrer na praia de acasalar culturas de tartaruga.
Vi o riso de quem sente prazer por viajar em raciocínios que nunca imaginariam. Ouvi a gargalhada de alguém a parar sua carruagem diante de cachorros a latir indecências, em exposição daqueles viveres dignos de piedade. Notei classificarem alguns pós graduados, ditos intelectuais, de zumbis de esquina por ignorarem a avenida da vida.
Vi-me sofrer em chicotadas de vimes alçadas a bibliotecas de apresentar sangue como se fosse bálsamo. Contrariamente, escolhi apresentar meu óleo de sândalo a existências secas de conteúdos. Depois, viajei por veredas que me levam a não sei onde, quiçá em lição a ensinar-me que vivo ilusões.
Agora insiro ponto a esta manifestação antes que a estação do trem me embarque ao outro país de letras tristes. Sinto-me morar do lado da solidão, sem cama que abrigue compatível casal. Ainda terei tempo de expor este texto para que alguém leia?


